Enquanto cai uma chuva leve riscando pingos finos no vidro,
eu fico deitado olhando o horizonte através da janela.
Ele ri de mim, porque sabe que eu teria de cruzar ainda
muitos horizontes para ser feliz. Estou preso aqui, numa realidade falsa, numa
prisão aberta, num hospício. Um constructo de minha própria mente na ausência
daquela que tanto amo e tanto aguardo.
Lembro-me nitidamente do rosto dela, de como foi estar com
ela, do sabor de seus lábios, suas mãos frias, do brilho incomum de seus olhos,
daquela voz...
Não existem pensamentos, sonhos, idéias, vontades ou
necessidades em que ela não esteja como protagonista.
Sinto-me muito mais acolhido quando a chuva vem me fazer
companhia, porque do mesmo modo que as gotas escorrem de vagar a janela eu
sinto descendo meu rosto lágrimas de saudade.
Saudade de uma pessoa que, mesmo longe, parece estar mais
perto do que todas as outras. Mas só parece...
Preciso voltar ao meu vício, minha droga, meu refúgio – você
– me atirar nos prazeres do seu corpo e no conforto de suas palavras.
Sem você o tempo parece esquecer que existo e me abandona,
nem se importa em ficar se arrastando por meses.
Mas quando estamos juntos posso sentir o relógio roubando os
preciosos minutos que sofremos para conseguir.
Posso estar aqui, enquanto você está aí, mas meu ser nunca
te abandona. Fico fora da realidade vivida pelo meu corpo e vago com minha
mente... tentando enxergar como seria estar com você.
É irônico ver como uma coisa tão certa e forte como você,
num momento está nos meus braços e noutro, de repente, some e fica fora do meu
alcance. Fazendo-me voltar à rotina doentia de recordar e imaginar.
A sua ausência me afoga numa doença chamada VERDADE... por
favor, venha me curar... por favor...
02/09/2012 – 00h05min
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